quarta-feira, 8 de abril de 2015

PSICOSSOMÁTICA e GEORG GRODDECK

Psicossomática

Georg Groddeck

Georg Groddeck

Georg Whalter Groddeck, um extraordinário médico alemão, já se utilizava de métodos e conceitos psicológicos próprios no tratamento de seus pacientes com enfermidades orgânicas crônicas. Muito antes de conhecer Freud e sua teoria, Groddeck o havia antecipado ao empregar em seus cuidados, além de massagens especiais, dietas e banhos térmicos, aquilo que, posteriormente, veio a tornar-se mundialmente conhecido como Psicanálise. Por este motivo, é aclamado como o Pai da Medicina Psicossomática, termo com o qual não concordava, considerando que a palavra composta ¨psicossomática¨ implica a existência de duas instâncias distintas: um corpo - soma, e uma mente, ou psique, a interagirem entre si. Para ele, são apenas diferentes manifestações de uma mesma ¨coisa¨, de um mesmo ¨Isso¨ impessoal, indeterminado, insondável, misterioso e incognoscível; origem e fonte de tudo que existe.
Georg Groddeck nasceu em 13 de outubro de 1866, dez anos depois de Sigmund Freud, na cidade alemã de Bad Kösen, e até a sua morte em 1934, cuidou dos seus doentes em seu sanatório em Baden-Baden. Seus colegas médicos indicavam aos seus enfermos crônicos, terminais e ¨desenganados¨, uma estada no sanatório desse médico de métodos pouco ortodoxos e resultados surpreendentes.
Para entendermos a filosofia e o pensamento de Groddeck, é essencial a compreensão e apreensão do significado da expressão e do conceito daquilo que ele denomina Isso (Es). Expressão adotada por Freud, e equivocadamente importada do latim como Id. O livro ¨Das Ich und das Es¨ de Freud seria melhor traduzido, e manteria uma maior correspondência com a ideia do original alemão, como ¨O Eu e o Isso¨.
¨...Da união entre o espermatozoide e o óvulo humanos surge um ser humano, não um cachorro ou um pássaro; nele há um Isso que força o desenvolvimento do ser, que constrói o corpo e a alma do ser humano. Esse Isso dota sua criatura, a personalidade, o Ego do ser humano, de nariz, boca, músculos, ossos, cérebro, faz com que esses órgãos funcionem e entrem em atividade já antes do nascimento, e impele o ser que está surgindo a ações convenientes, antes de completar-se o desenvolvimento do seu cérebro. Pergunta-se se esse Isso, que é capaz de tanta coisa, não estaria em condições de construir igrejas, de compor uma tragédia ou inventar máquinas; pergunta-se se toda manifestação de vida humana, seja corporal ou psíquica, saudável ou enfermiça, pensamento, ação ou função vegetativa não pode ser atribuída em última análise ao Isso, de modo que o corpo, a alma e a vida consciente fossem uma ilusão...¨
¨...Esse  inconsciente, que faz do espermatozoide e um óvulo um ser com olhos, ouvidos, pulmões, mãos e pescoço; por que teria dificuldades, por que lhe seria impossível conformar o caráter de sua criação, o caráter físico e psíquico? Se ele dá forma ao corpo, não poderia, por determinadas razões, dar-lhe certas predisposições ou negá-las, como por exemplo faz com que seios cresçam ou murchem, ou então o cabelo, a pele? De fato, ele cria essas disposições, faz surgir aqui uma alteração no coração, ali nos pulmões. E se ouvirmos a sua voz, em vez de tapar o ouvido com preconceitos que gostamos de chamar de saber, podemos descobrir muitos mistérios...¨
Seguindo Groddeck, a vida acontece independentemente de qualquer razão ou vontade consciente, e talvez melhor sem estas. Ela brota de algo que não temos a menor noção do que seja. O máximo que podemos dizer, é que surge e se desenvolve a partir de alguma coisa, um isso; um Isso.
Sua concepção desse imponderável inconsciente acarreta implicações que nos fazem repensar e questionar juízos que nos são muito caros, como os de causalidade, responsabilidade e culpa. Neste sentido, Groddeck,  assim como Nietzsche, afirmava: todos estamos muito ¨além do bem e do mal¨.
Termino por aqui esta sucinta apresentação deste médico alemão - expulso sabe-se lá por qual razão do panteão dos grandes gênios da humanidade - com o relato seu de um caso de uma simples comissura labial:
¨...Uma mocinha vem me procurar. O que ela tem, para usar uma expressão popular, é boqueira no canto direito da boca, ou seja, uma comissura na junção dos lábios. Isso já está assim há vários dias, diz ela. _De manhã, quando me levanto, parece curada, mas durante o dia a feridinha aparece de novo. Responde negativamente à pergunta de se alguém lhe deu um beijo proibido e à suposição de que andou se vangloriando de alguma coisa. Em compensação, sorri um pouco quando lhe pergunto se andou falando mal de alguém, e diz que pode ser certo. E quando eu chamo a sua atenção para o fato de a ferida situar-se no lado direito, e que portanto ela devia ter caluniado alguma pessoa da família, ela diz: _É isso, trata-se da minha irmã. No dia seguinte a boqueira estava curada...¨
As doenças contam uma história.

Fontes:
O Livro dIsso - Georg Groddeck - Ed. Perspectiva
Georg Groddeck-Estudos Psicanalíticos Sobre Psicossomática - Ed. Perspectiva 
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